Tradição de anos em Itarana, na Região Serrana do estado, o Tombo da Papa de milho também chega esta semana à Feira Sabores da Terra, para o público que for até o evento que acontece na Praça do Papa, em Vitória, entre quinta (18) e domingo (21).
Lá em Itarana, o tombo da papa já conseguiu uma certificação de maior do estado. Segundo a secretária da Associação para o Desenvolvimento do Turismo de Itarana (Adeturi) e coordenadora do Tombo da Papa, Edvania Fiorotti Caldeiras, o tombo desta semana também vai buscar o reconhecimento nacional.
O preparo do prato começa ainda na lavoura, com a colheita do milho que é feita pelos próprios idealizadores do evento. O processo inclui o descascamento, a extração do líquido do grão até o cozimento em um panelão de ferro fundido.
Segundo Edvania Fiorotti, há um projeto de lei tramitando na Assembleia Legislativa do estado (Ales) ara transformar Itarana na capital estadual da papa.
Tombo da Papa em números
🌽 1.200 espigas de milho
💧 200 litros de água
🍚 40 kg de açúcar
⏱️ 7 horas de preparo
🫕 Panelão no fogo leva cerca de 3h de cozimento.
🍽️ Vai render até 700 cumbucas de papa
🪙 Cada porção vai custar R$ 15
👩🍳 20 pessoas envolvidas no preparo
Tradicional em Itarana
Em Itarana, o Tombo da Papa acontece desde 2017. Para a feira, serão preparados mais de 300 litros em um panelão dentro de uma tenda aberta para que o público possa acompanhar todas as etapas, desde o milho sendo descascado até o tombo em si.
Quando o tombo acontece lá na cidade, as porções são distribuídas gratuitamente entre os presentes. Já em Vitória, será cobrado um valor, que será arrecadado para o caixa da associação.
O milho utilizado vem da propriedade do casal José Carlos Vieira e Lucimar Loriato Vieira, um dos idealizadores do evento. A produção própria garante qualidade ao milho. Para a feira, por exemplo, o milho será colhido apenas na sexta-feira (19), após o entardecer.
Na lavoura, o casal planta milho toda semana, além de outras culturas, como café, abacaxi, jiló e quiabo. Os dois vendem as espigas na feira e também fazem a própria papa para ser comercializada na região.
Por causa das variações climáticas, o agricultor José Carlos fez três plantios em períodos diferentes ao longo deste ano. Com isso, garantiu a colheita para o tombo da papa.
Segundo a organização do evento, cada detalhe do processo é fudamental para que a papa tenha o sabor característico.
Desde o momento da colheita até a retirada da palha, tudo precisa ser feito na hora certa. A sequência das etapas garante que o milho mantenha frescor e sabor, refletindo diretamente no resultado.
“Quando você compra um milho fora, você não consegue garantir a questão de qualidade, procedência, aplicação de veneno, enfim, tantas outras coisas, né? Às vezes, é um milho transgênico. Enfim, nós não conseguimos essa garantia. Então, todo milho que é utilizado é produzido na propriedade é dele”, explica Edvania Fiorotti.
Ainda segundo a organização, o milho faz parte do dia a dia de muitos produtores na cidade. O cultivo é feito em pequenas propriedades.
Há também diferenças culturais no consumo da papa. A comunidade pomerana, por exemplo, prefere o milho branco, enquanto a italiana consome o milho-verde, usado principalmente na produção de polenta.
Grão vira biscoitos, doces e silagem
O grão do milho não vira apenas papa na cidade de Itarana. Ele também é utilizado para preparar biscoitos, doces e, na agropecuária, se transforma em silagem para o gado.
De acordo com a Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), a produção de milho na cidade tem relevância localizada e não figura entre os principais produtos do município.
Em 2024, foram colhidas cerca de 792 toneladas de milho em grão, cultivadas em 228 hectares. Já o milho-verde em espiga, utilizado na produção da papa, respondeu por apenas 50 toneladas em dez hectares. Também foram registradas 863 toneladas de milho para forragem.
No conjunto, o valor bruto da produção (milho em grão + espiga + forragem) somou aproximadamente R$ 1,8 milhão. Pode parecer pouco, mas é na tradição e cultura em torno do milho que mora a riqueza do município.
A produção de milho em Itarana é voltada principalmente para o abastecimento local, seja para consumo humano (grão e espiga verde) ou como insumo na alimentação animal (forragem).
A papa de milho não é só parte da memória afetiva dos capixabas. Edvania Fiorotti, de Goiás, recorda a emoção de ser uma turista assistind ao Tombo da Papa, em Vitória.
"Quando ela comeu, ela disse que remeteu a lembranças da avó dela. Deu pra perceber emoção dela, né? Disse que aquilo lembrou da avó dela, remeteu a muita coisa da infância. Ela até nos agradeceu", contou a coordenadora do Tombo da Papa.
Não sobra nada
Na feira que será realizada em Vitória, a papa nunca sobra. Pelo contrário, todo o preparo é consumido. Neste ano, a organização decidiu aumentar a quantidade total em 100 litros em relação à edição anterior.
"Estamos entusiasmados em participar da Feira Sabores da Terra pelo terceiro ano e, para atender à crescente demanda, aumentamos nossa produção em 100 litros, totalizando 350 litros da papa. É uma alegria poder compartilhar um pedacinho de Itarana com o público. O fato de a papa nunca sobrar só mostra que os capixabas abraçam com carinho a tradição de nossos imigrantes italianos, a qual fazemos questão de propagar", comemorou.
A feira Sabores da Terra chega à sua 20ª edição entre os dias 19 e 21 de setembro, na Praça do Papa, em Vitória.
Com entrada gratuita, o evento traz novidades, além do Tombo da Papa de Itarana, e deve atrair milhares de visitantes à Enseada do Suá com programação recheada de gastronomia, produtos da agricultura familiar, artesanato, flores e apresentações musicais e culturais.
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