Integrantes da comitiva do Senado que viajou aos Estados Unidos na tentativa de dialogar com o governo americano sobre o tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros detectaram nos bastidores que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é alvo de uma intensa fritura junto à Casa Branca de Donald Trump estimulada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Tarcísio, que inicialmente culpou o governo Lula pelas tarifas, mas depois recuou e preferiu defender a negociação, está com a imagem queimada no entorno do presidente dos EUA e é visto no governo como “traidor” de Jair Bolsonaro por atuar contra o tarifaço imposto sob o pretexto de combater o que Trump chamou de “caça às bruxas” contra o ex-presidente brasileiro.

De acordo com dois representantes do Senado que viajaram a Washington, ficou clara a atuação de Eduardo, articulador das tarifas e da aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, para desgastar o governador e potencial rival na disputa pelo espólio bolsonarista nas eleições de 2026.

Um aliado próximo a Eduardo também confirmou à equipe do blog o mal-estar da Casa Branca com Tarcísio, mas atribui o climão à irritação de Trump com os recuos do governador e suas críticas ao tarifaço.

Tarcísio, que de início procurou culpar as atitudes do presidente Lula em relação aos Estadoa Unidos pelo tarifaço e não condenou o tarifaço, depois se posicionou contra as tarifas e defendeu uma negociação com os EUA.

“Essa história de tarifaço foi um tiro no pé pro Tarcísio e pros governadores, quem vai apoiar isso? O Eduardo começa a se posicionar contra o Tarcísio para tentar manter o patrimônio do pai, mas não vai conseguir”, disse reservadamente ao blog um dos integrantes da comitiva.

Eduardo e Tarcísio protagonizaram uma série de embates públicos desde que Trump anunciou as tarifas de 50% em 3 de julho. As exportações para o território americano representam 19% do total de São Paulo, um dos Estados brasileiros mais afetados pelo tarifaço de Trump, segundo cálculos da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O filho 03 de Bolsonaro, que tem repetido não haver espaço para diálogo com Washington sem a aprovação de uma anistia “geral, ampla e irrestrita” a bolsonaristas, chegou a chamar o governador de “servil” e o acusou de “desrespeitá-lo” por buscar uma saída negociada para a crise comercial com o encarregado de negócios da embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar.

Bolsonaro interveio no bate-boca e orientou Eduardo a buscar uma reaproximação com o governador paulista. O deputado fez acenos a Tarcísio nas redes sociais, mas também deixou claro que as divergências sobre o método de enfrentamento ao STF via EUA permanecem.

A trégua durou pouco e, na semana passada, Eduardo ironizou nas redes sociais as declarações do governador paulista em um evento da XP Investimentos sobre as negociações para contornar as novas taxas.

Alerta ligado

Aliados de Tarcísio informaram reservadamente ao blog que já detectaram o movimento de fritura do governador por parte do filho “zero três” de Bolsonaro.

Em meio ao agravamento da crise diplomática entre Brasília e Washington, e diante das críticas de Eduardo, Tarcísio tem dito a interlocutores para deixar de lado qualquer conversa envolvendo a disputa pela presidência da República.

“Eduardo colocou na cabeça dele que ele é o candidato a presidente. Todo esse movimento é porque ele tem certeza disso”, disse um interlocutor do governador ao blog.

Em entrevista à revista Veja em junho, o filho 03 de Bolsonaro admitiu pela primeira vez a possibilidade de concorrer à presidência em 2026 no cenário em que o pai continue inelegível pelos próximos oito anos, como determinou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Eduardo tem reiterado o desejo de disputar o Palácio do Planalto em entrevistas nos EUA e lives nas redes sociais. Steve Bannon, “guru” da plataforma política de Trump e aliado próximo da família Bolsonaro, tem apresentado o deputado brasileiro como “próximo presidente do Brasil” em seu podcast War Room, popular na direita americana.

Já Tarcísio tem mantido o discurso de que será candidato à reeleição em São Paulo, embora sofra pressões da Faria Lima e outros setores para concorrer contra o presidente Lula, que deve disputar um quarto mandato. Por outro lado, o governador tem incomodado bolsonaristas que veem uma série de gestos no sentido de se viabilizar no campo da direita sem o aval absoluto de Jair Bolsonaro.

Entre eles está a participação de Tarcísio em um encontro com investidores e banqueiros na Brazil Week em Nova York com ares de presidenciável e a falta de críticas públicas do governador a Alexandre de Moraes e ao STF em atos públicos convocados pelo ex-presidente.

FM STARS, MÚSICA, NOTÍCIA E SAUDADE