Os resultados contra os europeus não são exatamente surpreendentes – especialmente no caso do Palmeiras. Tanto o Porto, oponente do time paulista, quanto o Borussia Dortmund, rival do Fluminense, levaram ao torneio mais tradição do que momento. Os portugueses viveram uma temporada medíocre: terminaram o campeonato nacional em terceiro e fecharam a Liga Europa em 18º. Os alemães não fizeram uma Champions League ruim: caíram nas quartas de final para o Barcelona, um ótimo time, mas não passaram de um quarto lugar na Bundesliga.
Era esperado, portanto, que os brasileiros pudessem fazer frente a eles – que conseguissem realizar partidas equilibradas. O que surpreende é que tenham sido dominantes. Palmeiras e Fluminense chegaram a encurralar os europeus em seus campos de defesa. Exerceram pressão, colecionaram chances, estiveram em vias de marcar. Ambos ficaram em empates por 0 a 0 que não refletiram o que foram as partidas.
De todas as atuações, a que mais me surpreendeu foi a do Fluminense. O Palmeiras é um time consolidado, altamente competitivo, alicerçado em cinco anos de um trabalho de excelência de Abel Ferreira. No Tricolor, Renato Gaúcho chegou há dois meses e meio – para comandar um elenco que quase foi rebaixado no Brasileirão passado.
A exemplo do Palmeiras, o Fluminense mostrou muita personalidade. Teve coragem para resistir à tentação do defensivismo contra um dos principais clubes do futebol europeu nas últimas décadas. Jogou com naturalidade e organização. Ditou o ritmo da partida desde o início. Só não venceu porque ou o goleiro Kobel evitou, os seus atacantes falharam (especialmente Everaldo). Mas fez uma partida notável.
As atuações de Palmeiras e Fluminense sinalizam que os times brasileiros podem competir ao menos com uma espécie de segunda prateleira do futebol europeu. Clubes como Real Madrid, PSG e Manchester City estão em outro patamar – dificilmente serão vencidos por sul-americanos. De qualquer forma, é um alento: para quem não ganha um Mundial há 12 anos, para quem parecia mais próximo dos mexicanos, africanos ou asiáticos do que dos europeus, foi uma largada reconfortante.
Acredito que o Flamengo tenha chances de fazer um jogo competitivo contra o Chelsea, um time recheado de talento – e que teve no título da Conference League a recompensa para uma campanha no máximo mediana na Premier League (com a quarta colocação) e para frustrações recentes nas copas locais. A atuação da equipe londrina na vitória de 2 a 0 sobre o Los Angeles FC não destoou do desempenho do Flamengo no triunfo pelo mesmo placar contra o Espérance.
E o Botafogo, que oscilou na vitória de 2 a 1 sobre o Seattle Sounders e foi o brasileiro que mais apresentou problemas, agora encara o melhor time do planeta. Ao 5 a 0 sobre a Inter de Milão na final da Champions League, o PSG
emendou um 4 a 0 contra o Atlético de Madrid na estreia na Copa do Mundo de Clubes, mostrando que nem equipes famosas pela qualidade de suas defesas conseguem constranger um time que parece jogar no automático, de olhos fechados.
O PSG x Botafogo de quinta-feira reunirá os atuais campeões da Europa e da América do Sul. Será um simulacro, deslocado no tempo, daquilo que acontecia até surgir este novo formato do Mundial – o encontro que vinha mostrando, desde 2012, que o melhor sul-americano não era mais capaz de superar o melhor europeu.
Ao clube brasileiro, perder de pouco já será bom negócio, e não só pela enorme diferença entre os dois times: também pelo pragmatismo da tabela. Dependendo do resultado, o Botafogo poderá contar com um empate para se classificar contra o Atlético de Madrid – outra equipe muito forte, mas menos distante de nossa realidade.
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