Puxada pelo desempenho mais fraco da indústria de transformação, a indústria brasileira deve crescer 1,7% em 2025, um ritmo menor que o do ano passado. A projeção é da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

A combinação de juros elevados, avanço das importações e a expectativa de queda nas exportações — impactadas pela sobretaxa de 50% aplicada pelos Estados Unidos a produtos brasileiros — tende a limitar a atividade do setor, segundo a CNI.

Segundo Mário Sérgio Telles, diretor de Economia da CNI, a indústria brasileira, especialmente a de transformação, tem "andado de lado" nos últimos meses. A estagnação ocorre apesar do aumento na demanda.

Secretário do Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Uallace Moreira ainda assim considera o crescimento industrial deste ano positivo.

"A indústria ainda tem uma continuidade de crescimento, embora você tenha tido esse cenário conjuntural de juros alto e, ao mesmo tempo, dos Estados Unidos desfavoráveis", reflete.

Na análise de Telles, setores mais diretamente ligados ao crescimento da renda e menos sensíveis às variações na taxa de juros têm conseguido absorver melhor essa demanda. Um dos destaques é o setor de alimentos, que vem registrando desempenho positivo dentro do contexto industrial.

Pessimismo na indústria

O empresariado tem demonstrado um crescente pessimismo diante do cenário econômico atual, segundo a Sondagem da Indústria de Transformação, publicação mensal do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia). O levantamento apontou que o Índice de Confiança da Indústria (ICI) registrou queda de 4,4 pontos em agosto — a maior retração desde o período da pandemia.

De acordo com Stéfano Pacini, economista da FGV IBRE, o pessimismo captado na pesquisa está fortemente ligado aos desafios de curto prazo enfrentados pelo setor industrial.

"O principal fator macroeconômico que afeta a indústria hoje é, principalmente, a taxa de juros”, explica Pacini.

Segundo o economista, a atual política monetária restritiva tem um efeito direto na atividade econômica, pois encarece e restringe o acesso ao crédito — elemento essencial para o consumo de bens duráveis e para os investimentos produtivos.

Pacini destaca, ainda, que a manutenção dos juros em patamar elevado, apesar de seus efeitos negativos no curto prazo, tem como objetivo controlar a inflação e estabilizar a moeda.

Essa leitura é compartilhada por Rafael Cagnin, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).

Tarifaço

A alíquota de 50% à compra de produtos brasileiros aos Estados Unidos, em vigor desde o dia 6 de agosto, representa "mais uma pedra no caminho do setor", diz Cagnin.

Em julho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa extra de 40%, que somada à alíquota já existente, elevou a taxação total para 50%.

O governo de Trump justificou a medida por razões políticas, mas divulgou posteriormente uma lista de exceções que incluiu, por exemplo, aeronaves – setor sensível para os EUA, cuja frota área utiliza em grande escala modelos da Embraer.

Em paralelo à tentativa de negociação para reversão das tarifas, o governo federal anunciou algumas medidas, como a criação de uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para auxiliar empresas impactadas pelo tarifaço.

O Banco Nacional Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) também anunciou uma linha adicional de crédito de R$ 10 bilhões voltada para empresas brasileiras afetadas por tarifas menores que 50% aplicadas pelos Estados Unidos.

Segundo o secretário Uallace Moreira, do Mdic, o Plano Brasil Soberano buscou atender o máximo possível das demandas do setor privado. O pacote é resultado de 39 reuniões conduzidas pelo vice-presidente e sua equipe com 389 entidades produtivas e empresários.

"A gente vai avaliar e verificar o quão ela é suficiente ou não", afirma Moreira. "Dentro dessa realidade, esse pacote, esse plano, pode se readaptar. A gente pode discutir, aprimorar", explica.

De modo geral, as medidas foram bem recebidas pelos setores, segundo relatos. Ainda assim, a indústria enfrenta um desafio adicional: a adaptação de sua produção ao perfil de consumo dos norte-americanos.

Calçados, por exemplo, são fabricados conforme o padrão de numeração e estilo dos EUA, o que dificulta a redireção imediata das exportações para outros mercados. O mesmo ocorre com autopeças.

"Muito disso depende da agenda competitividade e da redução do Custo Brasil, algo que já deveríamos ter feito há muito tempo. Temos o acordo Mercosul-União Europeia, que seria interessante ver implementado, assim como outros acordos bilaterais que abrissem novos mercados", conclui.

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